Ao contrário da sua dona, a
Lingerie Histórica esteve de férias durante a maior parte do mês de Agosto. Talvez seja apropriado retomar o normal funcionamento do blog com uma história simples e directa sobre imersão cultural. Eis o segundo episódio da rubrica
Ligações Perigosas: Wenceslau de Moraes e as mulheres asiáticas.
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As roupas de Moraes causariam
sensação em Lisboa. |
Wenceslau de Moraes era um militar da Marinha Portuguesa quando pela primeira vez viajou para Macau, em 1888. Dez anos mais tarde, mudar-se-ia definitivamente para o Japão. Quis o destino (ou o homem) que o Sr. Moraes não mais voltasse à sua pátria. Isto talvez tenha sido bom para ele, pois imagino que em Portugal, apesar da afamada tolerância portuguesa nascida de séculos de contactos com os mais variados povos, o acusariam do equivalente lusitano do britânico
"going native", actividade de diletantes nada bem vista na Europa consciente da sua superioridade. Pois, pondo agora de lado a sua aclamada obra literária claramente favorável ao espírito japonês em detrimento do "ocidental" (coisa que a Europa ainda poderia perdoar, já que a literatura é um terreno pantanoso), Moraes cedo decidiu adoptar um modo de vida o mais próximo possível do japonês. Além disso, tinha já uma predilecção antiga por mulheres asiáticas.
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Moraes com Ko-Haru e a família desta. |
Em Macau, casara-se com Atchan, anglo-chinesa, de quem teve dois filhos. Quando se apaixonou pelo Japão e decidiu ali viver para sempre, Moraes abandonou a mulher e os dois filhos – infelizmente o conceito de responsabilidade paterna ainda não estava suficientemente desenvolvido – para, poucos anos mais tarde, se casar com uma gueixa japonesa, O-Yone. Quando esta morreu de doença, Moraes rompe todas as ligações que mantinha com o Estado português (era na altura Cônsul de Portugal em Kobe e Osaka e ainda oficial da Marinha Portuguesa) e, apesar da sua idade respeitável, vai viver com Ko-Haru, sobrinha de O-Yone. É felicidade de pouca dura, pois Ko-Haru morreria três anos depois, em 1916.
Diz-se que Wenceslau de Moraes morreu sozinho, numa noite de temporal, em 1929.
P.S.: Talvez seja uma boa altura para vos dizer que este blog nunca adoptará o novo acordo ortográfico. Será que também estou destinada a morrer sozinha no meu ódio por esta aberração?