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O Hindenburg na sua passagem por Lisboa
em 1936. |
O dirigível alemão
Hindenburg começou a sua curta vida envolto em polémica. Ele contentar-se-ia, sem dúvida, em flutuar descuidadamente sobre os verdejantes campos alemães e sobre o interminável Atlântico, mas muitos humanos são movidos por motivações mesquinhas e acabaram por arruinar o início de vida do gigante paz-de-alma por uma coisa tão insignificante como o seu nome.
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Notem o óbvio contentamento que o LZ 129 sente a flutuar,
apesar do seu nome infeliz. |
Como todos os meios de transporte, ao
Hindenburg foi atribuído um nome técnico genérico (LZ 129). Durante algum tempo foi este o único nome pelo qual foi conhecido, mesmo quando já fazia uns voos de teste pelos céus da Alemanha em 1936. Aparentemente, o matreiro presidente da companhia que o construíra – o Dr. Eckener – já tinha escolhido um nome para o seu bebé, mas lá terá achado que era melhor calar-se durante uns tempos, já que os nazis no poder não estavam para brincadeiras. Tanto assim foi que, nos primeiros voos que efectuou, o LZ 129 apenas ostentou no casco o seu aborrecido nome de registo e os cinco anéis olímpicos que faziam publicidade aos Jogos Olímpicos de Berlim (1936). E, claro, as suásticas.
Mas lá chegou o dia em que o Presidente da Câmara de Munique estragou os cuidadosos planos de Eckener. Estava o LZ 129 a passar sobre aquela cidade quando o intrometido autarca quis saber o nome do dirigível, sem dúvida porque seria mais bonito mencioná-lo com um nome de jeito num dos seus discursos à populaça. Eckener lá teve de responder "
Hindenburg", ao mesmo tempo que receava que o céu desabasse sobre a sua cabeça. O que veio, de facto, a acontecer no dia seguinte, quando Eckener foi chamado à presença de Goebbels para uma descasca.
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Mas as letras de 1.80m eram difíceis de ignorar.
"Olha, papá, o Hindenburg!"
"Cala-te, Hans, antes que alguém te ouça!" |
O Ministro da Propaganda estava visivelmente irritado e exigiu que o
Hindenburg fosse rebaptizado como
Adolf Hitler. Face à recusa de Eckener, Goebbels determinou que o dirigível seria conhecido na Alemanha apenas por LZ 129 (ooooh, a indignidade!) e ameaçou fazer desaparecer o próprio Eckener da comunicação social alemã. A abordagem típica do “se-o-ignorarmos-ele-deixa-de-existir”, também usada por Estaline nas suas fotos com camaradas indesejáveis. Três semanas mais tarde, o nome
Hindenburg foi pintado no dirigível em letras grandes e vermelhas (toma e embrulha, Goebbels!). Não se realizou a usual cerimónia de baptismo, mas o
Hindenburg não se importou, porque estava feliz e nada poderia arruinar aquele belo momento.
Quando, a 6 de Maio de 1937, o
Hindenburg pereceu, Goebbels suspirou de alívio por não ter conseguido levar a sua avante. Ficaria bastante mal
Adolf Hitler ser consumido por chamas impiedosas em solo americano.
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