segunda-feira, 4 de julho de 2011

Porque usar pessoas como cobaias é sempre uma má ideia

Porque o Homem, dito "animal pensante", é capaz de usar a sua mente racional para cogitar as coisas mais perturbadoras.

Depois da Segunda Guerra Mundial, levantou-se frequentemente a questão da obediência cega a uma/várias figura(s) de autoridade e se os que obedeciam partilhavam a mesma culpa dos que mandavam. Como está na natureza humana querer ter resposta para tudo, realizaram-se em universidades dos Estados Unidos da América várias experiências que pretendiam apurar, de uma forma ou de outra, até onde uma pessoa poderia ir, independentemente dos valores e crenças que afirmava ter.

A experiência Milgram mostrou que "seguir ordens"
nem sempre é louvável.
A experiência Milgram, iniciada em 1961, destinava-se a avaliar a obediência a figuras de autoridade, medindo o grau de obediência dos participantes a ordens que entravam em conflito com a sua consciência pessoal. Ao voluntário era atribuído o papel de professor, e um actor era colocado no papel do aluno/aprendiz. Claro que os voluntários não faziam ideia que este homem era um actor. O voluntário recebia então uma lista com palavras que deveria ensinar ao aluno, juntamente com um botão que, quando accionado, daria um choque eléctrico ao aluno. Este devia ser usado quando o aluno cometesse um erro ao recitar as palavras. Na verdade, não eram administrados quaisquer choques, mas o actor era bom e fazia o voluntário crer que se encontrava num sofrimento horrível. Se o voluntário desse sinais de querer parar com a experiência, o responsável instigá-lo-ia verbalmente. Surpresa: muitos voluntários continuaram a administrar choques eléctricos quando o "aluno" já parecia morto.

Mas dentro desta coisa das experiências com cobaias humanas, nada ultrapassa a experiência prisional da Universidade de Stanford, em 1971. Um respeitável professor de Psicologia achou que seria interessante recrutar uns quantos estudantes do sexo masculino e dividi-los em dois grupos: um de guardas prisionais, outro de presos. Os presos teriam de permanecer durante 14 dias numa cadeia construída para o efeito numa cave da universidade, e os guardas prisionais fariam, obviamente, de guardas prisionais. Estes trabalhavam por turnos, o que significa que podiam ir a casa e fazer as suas vidas. Os presos estavam... presos.

Depressa as cobaias se começaram a adaptar demasiado bem aos papéis que lhes haviam sido atribuídos: os presos amotinavam-se e os guardas usavam violência psicológica para os controlar, uma vez que a violência física estava, no âmbito da experiência, proibida. Entretanto, alguns presos exibiam claros sinais de instabilidade mental. Até o próprio Professor, que em vez de se distanciar da experiência escolhera nela participar activamente – enquanto superintendente da prisão – interiorizou o seu papel de tal maneira, que optou por ignorar o comportamento abusivo dos guardas.

A experiência de Stanford foi recriada no filme alemão Das
Experiment
. A Alemanha tem a tradição de confrontar
cinematograficamente o seu passado.
A experiência foi interrompida ao fim do sexto dia, quando uma colega do professor questionou a moralidade de tais actos. De entre as 50 pessoas que supervisionavam a experiência, foi a única. Recordemo-nos que as cobaias seleccionadas pertenciam à classe média, não tinham cadastro criminal, problemas psicológicos ou médicos. Apesar da aparente normalidade dos intervenientes, quem sabe o que teria acontecido se a coisa tivesse realmente durado os 14 dias previstos...

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