quarta-feira, 20 de julho de 2011

Os símbolos são o que deles fazemos

Quando, no outro dia, andava em busca de material para o meu post sobre o Hindenburg, deparei-me com um aviso na Wikipédia que me relembrava que uma imagem do dirigível ostentava símbolos que podiam ser proibidos na Alemanha e em alguns outros países. Estes símbolos eram, claro está, as suásticas pintadas no Hindenburg. Já conhecia, em linhas gerais, esta proibição, mas decidi recorrer ao detective privado favorito de toda a gente (o Google) e descobrir até que ponto a suástica é proibida, de facto, na Alemanha.

É preciso ressalvar aqui que a suástica não foi inventada pelos nazis. É um símbolo que tem feito aparições ao longo dos séculos em cerâmica grega, em construções e decorações romanas, um pouco por toda a Europa pré-cristã – com maior prevalência no Norte –, e era até usado por algumas tribos nativas americanas. E, claro, na Ásia, particularmente na Índia. É neste continente que a suástica continua a ser usada com grande frequência, já que surge associada ao Hinduísmo, Budismo e ao Jainismo. É por esta razão que, no caso de encontrarem na loja dos chineses da vossa zona uma caixa para jóias ornamentada com suásticas, não devem olhar de lado os donos do estabelecimento. (Encontrei uma destas caixas há uns anos. Parece-me que o produto não terá grande saída em terras ocidentais.)

A Zara passou a olhar com mais atenção
para as fotos dos produtos.



Mas para o ocidental comum, a suástica é o símbolo do mal. Especialmente se se apresentar negra, inclinada a um ângulo de 45°, e rodeada de branco e vermelho. Tanto assim é que, no longínquo ano de 2007, a cadeia espanhola Zara teve de retirar das suas lojas uma mala com um padrão que incluía suásticas devido à queixa de um cliente. Sabendo das políticas das multinacionais de vestuário, é legítimo concluir que o tecido (ou a mala inteira) teria sido importado de um país asiático. Mas nenhuma justificação, mesmo invocando os benefícios da multiculturalidade, poderia salvar aquelas malas num país ocidental.




Na Alemanha, Áustria, e alguns outros países directamente envolvidos na Segunda Guerra Mundial, a exibição pública da suástica é proibida e punível por lei.

Por estas e por outras razões (imprecisões históricas, etc.)
Música no Coração não fez muitos fãs na Áustria e Alemanha.
Se quiserem comprar, na Alemanha, um kit de modelismo de um avião ou tanque alemão da Segunda Guerra, não encontrarão na caixa os devidos decalques das suásticas; se aspirarem ao realismo, terão de as desenhar à mão. Existem, obviamente, excepções à proibição: a suástica pode ser usada em contextos históricos e educativos. O que é conveniente, já que, se assim não fosse, os inúmeros filmes alemães e austríacos envolvendo estes símbolos nazis teriam de ser censurados nos seus países de origem.

Para sairmos um pouco da parte germanófona da Europa e também para deixarmos a suástica em paz, recordemos que em vários países da Europa de Leste outros símbolos foram também banidos: a foice e o machado, a estrela vermelha. Pois também estes são considerados símbolos de uma ideologia totalitária e criminosa – o comunismo soviético.

2 comentários:

  1. Por definição o objectivo de um símbolo é exactamente ser associado àquilo que pretende representar. O “problema” gera-se quando diferentes povos associam o mesmo símbolo a coisas bem opostas (como é talvez um dos exemplos máximos a suástica que referes). Por isso o título que escolheste está perfeito. É bastante interessante estudarmos as diferenças de significado e a origem dessas diferenças e sem dúvida muito se pode aprender com isso (mas disso sabes tu muito mais que eu!).

    Beijinhos,
    FATifer

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  2. Obrigada pelo teu comentário!

    As ligações místicas do Nazismo têm despertado considerável interesse nos meios académicos - e também nos meios... menos académicos - mas parece-me que ainda há muito boa gente que desconhece as origens da suástica e pensa que as lojas dos chineses (por exemplo) estão a tentar impingir-nos caixas decoradas com símbolos maléficos.

    Beijinhos e continuação de boas férias!

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