sábado, 28 de maio de 2011

Aquilo que vocês nunca quiseram saber sobre o quotidiano na Roma Antiga

Lembro-me do dia exacto em que aprendi aquilo que nunca quis saber sobre a vida quotidiana na Roma Antiga. Foi há uns dois meses (talvez por isso me lembre tão bem).

Acompanhei a série Spartacus: Blood and Sand – estreada recentemente em Portugal com o ligeiramente disléxico título Spartacus: Sangue e Arena – quando se estreou no seu país de origem; e, entretanto, deixei-me embrulhar na sua prequela, exibida no início deste ano. Esta última (Spartacus: Gods of the Arena/Spartacus: Deuses da Arena) entretém-nos com as histórias do ludus(*) do manager extraordinaire de gladiadores Batiatus antes da chegada do inconveniente escravo trácio Spartacus ao estabelecimento.
(*) Escola de treino de gladiadores.

Construir uma rede clientelar é um assunto sério.
Antes de Spartacus vir estragar o arranjinho ao ludus de Batiatus, este último entretinha-se com o típico passatempo romano que consistia em conquistar uma sólida rede clientelar. O senhor vivia em angústia porque os seus gladiadores apenas combatiam ao fim da tarde, quando a atenção dos espectadores dos jogos se começava a esbater, para se concentrar em assuntos como o jantar e uma boa noite de sono. Isto significava que o seu ludus não gozava de grande reputação na cidade de Cápua, algo que seria necessário mudar se Batiatus quisesse ter os seus gladiadores nos primeiros combates do dia.


Algures no decorrer deste processo de socialização que resultaria, um dia, numa rede clientelar simpática, encontramos Batiatus no sítio mais social das cidades romanas. Não, não me refiro aos banhos públicos – isso não seria lá muito chocante. Refiro-me, claro, às latrinas públicas.

Se eu alguma vez me debruçara sobre este curioso conceito da sociabilidade das latrinas públicas, com certeza bloqueei essa particular memória. Naquele momento vi-me confrontada com o terrível conhecimento de uma forma extremamente rude e inesperada. Batiatus e um seu amigo, no meio de um passeio pelas ruas de Cápua e de uma discussão sobre estratégias comerciais, passam pelas latrinas públicas, onde Batiatus decide sentar-se ao lado dos restantes frequentadores das instalações e tratar das suas necessidades fisiológicas mais prementes, sem nunca interromper a conversa e sem se desviar do tema em debate.

Batiatus entrega a famosa esponja a um escravo.




Terminado o serviço, limpa-se com uma esponja fixada à ponta de um pau, de uso comunal. De uso comunal. Esta esponja era apenas mergulhada em água entre cada utilização.






As latrinas públicas enquanto espaço de socialização na Roma Antiga suscitam algumas questões. A mais evidente será: como acabámos por desenvolver timidez e vergonha no que diz respeito às nossas necessidades fisiológicas? Vou seguir uma linha muito popular e culpar a Idade Média e os seus pudores.

Batiatus recebe vários convites neste bonito local.

Talvez um dia possamos dispensar a privacidade nos lavabos públicos, o que conduzirá, certamente, a um aumento da produtividade no local de trabalho. Ainda assim, há algo de estranho em receber um convite para jantar em semelhante contexto.

2 comentários:

  1. Esta lingerie já tem laivos de escândalo público, i.e., já faz jus ao título que encima o blogue.
    Hoje, os cubículos que temos à disposição nas casas de banho dos C.C. são quase tão públicos como as latrinas públicas romanas. Eu não me sinto à vontade num espaço pretensamente privado a ver os pés e a ouvir os sons emitidos pelas senhoras dos cubículos do lado.

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  2. A vida quotidiana da Roma Antiga é fonte de conhecimento e divertimento e merece ser divulgada. Podias escrever sobre a sociabilidade nas Termas, bem como sobre as virtudes públicas e vícios privados de imperadores, imperatrizes, patrícios e patrícias dos tempos do Império.

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