quarta-feira, 25 de maio de 2011

A maldição dos faraós



Em tempos, se alguém morria misteriosa e aflitivamente e esse alguém tinha andado a profanar túmulos egípcios, era bastante óbvio para toda a gente que o infeliz indivíduo tinha sido vítima da terrível maldição do faraó.

Hoje em dia, sabemos da existência de doenças estranhíssimas, muito mais assustadoras do que uma maldiçãozinha. Consequentemente, toda a magia desapareceu. Por outro lado, os filmes ensinaram-nos a temer as múmias. Se considerarmos racionalmente a coisa, elas são, na verdade, inócuas – afinal, estão mortas há milhares de anos –, mas são também mais assustadoras do que um esqueleto. Quando os antigos egípcios se lembraram de colocar inscrições ameaçadoras em alguns túmulos estavam igualmente a contar com o aspecto medonho das múmias aí sepultadas, pois perceberam que:

- Os egípcios seus contemporâneos não tinham medo de múmias, já que elas eram uma ocorrência relativamente normal naqueles tempos; contudo, as suas crenças/superstições (e uso a palavra enquanto ímpia ocidental do século XXI) desencorajá-los-iam de desejar demasiado ardentemente os tesouros encerrados nos túmulos.

- Inevitavelmente, daí a muitos anos, os ímpios ocidentais viriam bisbilhotar as areias do deserto. Era pouco provável que eles fossem tão supersticiosos como os antigos egípcios, mas a sua temeridade explodiria em mil bocadinhos quando se vissem frente a frente com uma temível múmia, pois por alguma razão a sua cultura judaico-cristã ensinara-os a ter medo dos mortos e das suas almas penadas.

Na realidade, para justificar qualquer morte após a abertura de um túmulo encerrado durante muito tempo poder-se-ia, provavelmente, invocar a mui científica frase "sabe-se lá o que anda a pairar pelo ar...". Mas uma maldição tem outra categoria.

Não é possível matar múmias a tiro. Elas já estão mortas.
Quando se fala de maldições, de faraós e de múmias, a primeira coisa que nos vem à cabeça é o túmulo de Tutankhamon. Ou talvez isso fosse dantes, pois agora toda a gente se lembra primeiro dos filmes da Múmia e do malvado sacerdote Imhotep. Voltando a Tutankhamon, é minha obrigação informar-vos da inexistência de qualquer inscrição amaldiçoante no seu túmulo. Apesar disso, quando o financiador da expedição que o encontrou e explorou, Lord Carnarvon, morreu quase cinco meses depois da abertura do túmulo a 29 de Novembro de 1922, levantaram-se de imediato vozes garantindo que a sua morte se devera à maldição. A ausência de uma maldição declarada não significava grande coisa, pois se "cão que ladra não morde", pode concluir-se, aplicando as leis da Filosofia do 10º ano, que "cão que não ladra, morde". Também o facto de o líder da expedição, Howard Carter, ter vivido ainda uns bons anos depois de violar desavergonhadamente o derradeiro local de descanso do faraó – já que foi ele próprio a abri-lo – não desencorajou os que acreditavam no poder mágico das múmias e das maldições.

Cuidado com as múmias que vos espiam pela janela.
Hoje acredita-se que Carnarvon morreu de uma picada de mosquito infectada, da qual veio a resultar uma septicemia. Se ignorarmos os sombrios presságios – como a cobra a comer o pobre canário de Carter, mas não é essa a sua natureza enquanto predadora? – e acreditarmos na Wikipédia, apenas 8 pessoas entre as 58 que estavam presentes aquando da abertura do túmulo morreram no espaço de uma dúzia de anos. Mesmo que as maldições tenham um prazo de validade alargado, é improvável que sejam responsáveis pelas mortes ditas naturais da maioria dos membros da expedição.

2 comentários:

  1. Esta lingerie, afinal,é pouco indiscreta. Diria até que é muito científica; segue os métodos e normas da historiografia séria e bem comportada. Os critérios de selecção dos temas obedecem a fins pedagógicos ou lúdicos?

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  2. Antes de mais, obrigada pelo comentário!

    A "lingerie" são mesmo os temas escolhidos - aquelas insignificâncias das quais, normalmente, "não reza a História". Claro que não quero estar para aqui a induzir os leitores em erro; antes pretendo brincar um pouco com a História, sem distorcer demasiado os factos.

    A respeito da selecção dos temas, vou escrevendo sobre eles à medida que me vêm à cabeça. Também por essa razão, o blog não seguirá uma sequência temporal definida.

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