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Pergunto-me se o GoogleMaps também fornece indicações
de bons bordéis, como faz com os restaurantes. |
Na Berlim dos anos 30, no número 11 da Giesebrechtstrasse, funcionava alegremente um bordel chamado Pensão Schmidt. Apesar do engenhoso disfarce fornecido por este nome, toda a gente devia saber que ali não se oferecia apenas cama e pequeno-almoço. Desenvolviam-se no número 11 todas as actividades típicas de um bordel, com a particularidade de os participantes nas ditas actividades serem dignitários alemães e diplomatas estrangeiros – tudo gente importante.
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Os desordeiros SAs. |
A meio do ano de 1939, os mais atentos já previam o início de uma guerra. Os ainda mais atentos já a previam desde 1933. Neste último grupo incluía-se, provavelmente, a proprietária da "pensão", Kitty Schmidt, que vinha sendo incomodada por uma polícia já não muito tolerante dos vícios berlinenses, ao mesmo tempo que assistia à substituição da sua clientela tranquila por uma data de SAs desordeiros. Assim, a Madame decidiu dedicar parte do seu tempo (aquele que não passava a assegurar o bom funcionamento do bordel) a transferir o seu dinheiro, pouco a pouco, para bancos britânicos, através de refugiados judeus que ajudava a sair do país. O problema veio quando Kitty se dispôs a gastar os frutos do seu trabalho, tendo para isso de abandonar a Alemanha. Em Junho de 1939 saiu de Berlim com um passaporte falso, mas foi apanhada na fronteira por homens do SD – os serviços secretos das SS – que já a tinham debaixo de olho. Aí, a Madame recebeu uma proposta indecente.
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Heydrich tenta interessar Himmler nos seus planos, mas este
prefere assegurar-se que fica bem na fotografia. |
O manda-chuva do SD, Reinhard Heydrich, tinha tido a brilhante ideia de usar um bordel para espiar gente importante e ver se alguém dizia mal da causa nazi. Heydrich pensou, com admirável lógica, que homens sob a influência de bebidas espirituosas e de belas mulheres sem roupas teriam as línguas necessariamente mais soltas. Estando o SD cheio de indivíduos de espírito prático, cedo se tornou claro que ficaria mais barato requisitar um bordel inteiro do que ter a chatice de se infiltrar num. Quando teve de escolher entre ir para um campo de concentração ou ajudar o SD neste seu plano diabólico, Kitty não terá tido grandes dúvidas.
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Hábil recriação do Salon Kitty com letreiro de néon à maneira de Las Vegas. |
A Pensão Schmidt ficou uns meses fechada para obras, para tristeza dos seus clientes. O que estes últimos não sabiam era que o interior do edifício estava a ser artilhado com aparelhos de escuta de última geração. Entretanto, a polícia de Berlim realizava rusgas diárias em bordéis e outros sítios mal frequentados para reunir algumas prostitutas que seriam depois submetidas a um treino especial de espionagem. Quando reabriu as suas portas, de cara lavada, o bordel agora chamado Salon Kitty tinha vinte novas raparigas para uso exclusivo de uma clientela especial, que se identificaria através de uma frase-código:
"Venho de Rotemburgo". O código foi então astutamente espalhado por entre selectas figuras do aparato militar nazi e do corpo diplomático estrangeiro. É, contudo, lamentável que após tamanhas manobras de espionagem o código fosse tão pouco glamoroso.
Depois de entreter inúmeros e indiscretos clientes de alto gabarito, o Salon Kitty sofreu em Julho de 1942 um ligeiro bombardeamento que obrigou a uma pequena relocalização das instalações. Conscientes de que um edifício meio destruído fazia pouca figura, o SD abandonou o projecto. Madame Kitty saiu a ganhar: as vinte raparigas especialmente treinadas em línguas estrangeiras, combate corpo-a-corpo, política externa, economia, e sabe-se lá em que mais ficaram ao seu serviço.
Parabéns pelo conteúdo e pela forma desta lingerie que não deixa de surpreender!
ResponderEliminarGostei de saber os pormenores da Pensão Schmidt. Será que foi por essas bandas que as SS e as SA confraternizaram na "Noite das Facas Longas"?
… interessante o que se aprende por aqui…
ResponderEliminarApenas um comentário: por mais que concorde que a frase-código não tem muito de glamoroso, não nos esqueçamos que não é propriamente pelo glamour que os alemães são conhecidos. Uma frase mais glamorosa talvez levantasse suspeitas, ou será que sou eu que já vi filmes a mais?
Beijinhos,
FATifer
Anónimo: Não terá sido neste bordel - isso estragaria os estofos!
ResponderEliminarFATifer: Os franceses detinham a patente do glamour, mas parece que entretanto a perderam. Talvez tenha atravessado a fronteira? Ou talvez o faça nos tempos mais próximos. Mas concordo, os alemães são essencialmente práticos.