Não falo do Hitler histórico. A popularidade desse, felizmente, tem-se mantido baixa desde a sua morte (vamos ignorar aqueles que juram a pés juntos que ele fugiu para a América do Sul e está vivo ainda hoje, numa praia paradisíaca, a beber daiquiris por uma palhinha colorida. Se o leitor for da mesma opinião, vá-se tratar, porque o Hitler teria 122 anos se fosse vivo, não haveria daiquiris que lhe valessem). Falo do Hitler interpretado por Bruno Ganz no filme Der Untergang.
Fazer troça de Hitler tem sido passatempo de muita gente desde tempos imemoriais (ou, pelo menos, desde a década de 1930, porque antes disso quase ninguém o conhecia). O pioneiro desta arte foi Charlie Chaplin, com o filme O Grande Ditador, de 1940. Chaplin é o maior dos parodiantes de Hitler porque gozou com ele enquanto o homem ainda estava vivo, e isto foi obviamente um grande feito. Actualmente, temos de nos contentar com fazer troça de Hitler com ele já bastante morto mas, para compensar, podemos recorrer ao auxílio das novas tecnologias para criar paródias cada vez mais interessantes.
Der Untergang chegou aos cinemas em 2004 e, desde então, deu origem a milhares de paródias que podem ser encontradas, na sua maioria, no Youtube. Não me admira, porque o filme é mais assustador do que sei lá o quê e a única forma de lidar com ele depois de o ver de fio a pavio uma vez é voltar a vê-lo através das ditas paródias.
Nestes vídeos normalmente curtos, o bunker onde Hitler passou os seus últimos dias transforma-se num manicómio cheio de pacientes sob o efeito de drogas. Aproveitando o facto de muita gente não entender alemão, tudo o que os intervenientes dizem é adulterado por legendas disparatadas. O efeito cómico é maximizado pela quase constante fúria de Hitler. Entre muitas outras coisas, Hitler aprecia os dotes musicais de um homem russo que consegue cantar uma música sem letra, perde o seu fiel ajudante-de-campo para o ditador de um país desconhecido, treina para operador de call-center…
Quem está familiarizado com a Internet conhece a sua incrível capacidade de transformar qualquer coisa numa anedota. Até Hitler, que é provavelmente o indivíduo menos hilariante de todos os tempos. Podia agora lançar-me numa tirada sociológica/antropológica explicando as razões desta necessidade de nos rirmos de Hitler, mas não o farei porque não percebo grande coisa de Sociologia ou Antropologia. Deixar-vos-ei apenas um aviso: se forem até ao Youtube ver estas paródias, cuidado; quando voltarem a olhar para o relógio, terão passado cinco horas. É assim a Internet.
O seu aviso final não deixa de me causar um sorriso ao me lembrar da forma como, carinhosamente, foi em tempos apelidada a internet “world wide wait”. Bem sei que isto foi em tempos que talvez não se recorde (uma vez que já se afirmou como uma “mulher jovem”) mas é curioso que primeiro “perdêssemos” tempo a esperar e agora “percamos” tempo a usá-la tanto.
ResponderEliminarQuanto a hitler mesmo não tendo visto o filme em causa (grande falha minha reconheço) não deixo de ficar preocupado que a sua figura seja usada em paródias como as que menciona e já vi. Chaplin, sendo o mestre que era, tinha um propósito na sua paródia enquanto as actuais me parecem acabar por servir quanto muito para oposto… digo eu que de sociologia e antropologia nada estudei também.
Cumprimentos,
FATifer
Obrigada pelo comentário!
ResponderEliminarApesar de me considerar jovem, ainda sou do tempo em que a Internet soava assim e, nessa altura, fazia-nos realmente esperar.
Recomendo o filme. A experiência pode ser angustiante - um pouco como estar preso no pesadelo de outra pessoa - mas vale a pena.
Há, de facto, uma linha ténue que separa as coisas com as quas se pode gozar e aquelas em que não se deve tocar. Neste caso particular, o consenso geral parece ser: ridicularizar Hitler = OK; piadas que envolvam os crimes que ele cometeu = nem pensar. Claro que existem indivíduos sem escrúpulos que cruzam frequentemente esta linha. Felizmente, ainda não me deparei com uma paródia deste género que o fizesse; mas também não quis procurar demasiado, por razões óbvias. Vamos ver no que isto dá...